Arquivo -Junho 2017

A selva – Ferreira de Castro

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Através do personagem central, um jovem português que é forçado a emigrar por razões políticas, Ferreira de Castro recupera a sua própria experiência enquanto emigrante no Brasil para denunciar a injustiça social inerente às relações laborais exercidas em situação de profunda desigualdade. É uma injustiça universal, perfeitamente transponível para a experiência migratória no mundo atual. O português que serve de nosso guia neste mundo de extremos sofre e vê sofrer, à semelhança do imigrante que no Portugal contemporâneo encontra a selva nas nossas cidades. A caminhada dos deserdados através dos séculos continua.

A selva – Ferreira de Castro

Em «A Selva», tanto o cenário como as personagens que nele se movem são retratados com extrema intensidade. A floresta amazónica surge como entidade viva, com vontade própria, implacável nos seus desígnios, cruel e fascinante em igual medida.
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O Rapaz Perverso

«O rapaz perverso», distinguido como livro do ano pelo The Guardian e pelo Sunday Times, é um justo merecedor deste reconhecimento ao oferecer um relato excepcional de um trágico crime real. Tal como no seu best-seller «As suspeitas do Sr. Whicher», Kate Summerscale efetua uma reconstituição histórica exaustiva e notável que nos transporta à Londres dos finais do século XIX. É aqui que, numa manhã indistinta, dois irmãos terão estado envolvidos no homicídio da própria mãe, uma mulher emocionalmente instável e pouco apoiada por um marido constantemente ausente.

A reconstituição do acontecimento transporta-nos a um drama familiar de grande intensidade, onde não falta o devido enquadramento proporcionado por uma época de extremas transformações sociais, na qual a classe trabalhadora começa finalmente a ter acesso a uma instrução básica através da massificação do ensino. Escolas sobrelotadas e impessoais transmitem conhecimentos rudimentares ao nível da leitura e da escrita a crianças que não encontram na família uma orientação ao nível dos gostos literários. Pequenos folhetins sensacionalistas, com histórias de crime e de terror, acabam por captar o interesse destes rapazes, tal como os jogos de computador e as redes sociais fazem actualmente com os jovens impressionáveis. Terá sido este interesse mórbido a inspirar um acontecimento macabro, que no entanto já se adivinhava em relações familiares tóxicas de angústia e insegurança.

No entanto, a história não termina com o julgamento e condenação do responsável. O hospital psiquiátrico de Broadmoor é a paragem seguinte desta obra que o apresenta como um improvável «paraíso dos assassinos», uma instituição vocacionada para a recuperação e não para a punição, que oferece condições de vida absolutamente inauditas mesmo nos tempos que correm. Mais tarde, a narrativa prossegue com um retrato impiedoso da violência sanguinária da Primeira Guerra Mundial, a qual vem a revelar os verdadeiros traços da personalidade do «jovem assassino». Afinal, as idiossincrasias do carácter humano, tão susceptível e vulnerável às circunstâncias, nem sempre permitem uma fácil distinção entre o bem e o mal.

 “Para ele, a mãe tinha-se tornado um monstro, como a serpente que Jack Wright enfrenta na gruta submarina”.


Título: O Rapaz Perverso

Autor: Kate Summerscale

Editora: Bertrand

Ano: 2017