P. D. James é, sem dúvida, merecedora do título de Rainha do Crime e «Mortalha para uma enfermeira» é mais uma sólida prova do seu enorme talento. O leitor é transportado a um hospital inglês nos finais dos anos 60, retratado minuciosamente em todos os seus ínfimos pormenores – as rotinas, os tratamentos, os ambientes, as hierarquias. O realismo da descrição permite sentir o cheiro a desinfetante no ar, ouvir os lamentos dos pacientes e estremecer com as correntes de ar que circulam furtivamente por amplas divisões concebidas para outros fins. As personagens movem-se nesta antiga residência senhorial convertida em escola de enfermagem, os seus caracteres são dissecados e as suas motivações expostas perante o leitor que tenta adivinhar o seu possível envolvimento no homicídio de duas estudantes.
O médico misógino e narcisista, a enfermeira lésbica e reprimida, a superintendente inteligente e discreta, a chefe de enfermagem intransigente e dedicada, e um grupo heterogéneo de estudantes que incluem uma amostragem coerente dos principais traços da personalidade humana. O inspetor Dalgliesh interroga, observa e investiga num meio que não é o seu e que frequentemente se revela hostil às suas inquirições, mas a sua persistência irá permitir desvendar um mistério improvável e surpreendente.
“Dalgliesh pensou que ele tinha a presunção, a patina da vulgaridade e o savoir-faire levemente grosseiro que associava a um determinado tipo de homem bem-sucedido”.
Título: Mortalha para uma enfermeira
Autor: P. D. James
Editora: Publicações Europa-América