Sentença em Pedra

Obra emblemática de uma grande senhora do crime, «Sentença em Pedra» é um triller psicológico genial que se lê compulsivamente da primeira à última página, apesar de Ruth Rendell revelar o desfecho logo no início da obra: uma família vai ser assassinada pela sua governanta. Contrariamente ao que sucede com o policial tradicional, não é a curiosidade sobre o final que prende o leitor, mas sim a forma como os acontecimentos se sucedem até àquele momento fatídico.

A família é feliz, aparentemente perfeita. Viveu sempre num mundo benevolente, isento de maldade. Todos os seus elementos são ricos, cultos, bonitos, bem integrados na comunidade onde os vizinhos os respeitam. Ironicamente, é essa inocência complacente que vai ditar a sua morte. Quando confrontados com a maldade, não a reconhecem. Confundem o isolamento da nova governanta com timidez, a sua frieza com reserva, a sua compulsividade com dedicação. E assim trazem uma psicopata para o seu seio, provocam-na com a sua boa-vontade inconsciente, despertam o monstro que se alberga naquele coração de pedra. Quando a inquietação finalmente surge, já é tarde de mais.

“Não houve piedade que a movesse, nem remorso. Não pensou em amor, alegria, paz, descanso, esperança, vida, pó, cinzas, desperdício, necessidade, ruína, loucura e morte, que tinha assassinado o amor e uma vida feliz, arruinado a esperança, desperdiçado força intelectual, acabado com a alegria, porque ela mal sabia o que estas coisas são. Não viu que tinha deixado cadáveres gritando por sepultura. Pensou que era uma pena aquela carpete tão bonita ter ficado naquela porcaria e ficou contente por nenhuma gota de sangue lhe ter tocado”.

sentença

Título: Sentença em Pedra

Autor: Ruth Rendell

Editora: Gradiva

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