A balada da praia dos cães

José Cardoso Pires é um escritor excecional. Move-se no olimpo das palavras, no qual apenas os poucos eleitos são admitidos. Cada frase, capa parágrafo, cada capítulo de um livro seu tem valor intrínseco, pela sofisticação da forma, pela riqueza do conteúdo, por tudo o que consegue transmitir e pela forma como o faz. Dá gosto ler, reler, abrir em qualquer página ao acaso e saborear a leitura como um fim em si próprio, um exercício de pura estética.

«Balada da praia dos cães» tem este dom de nos transportar ao que de melhor a literatura tem para oferecer. A ação decorre no contexto claustrofóbico do Estado Novo. Relata a investigação do homicídio de um militar evadido da prisão, que estivera detido por tentativa de sedição militar. O seu cadáver, “em avançado estado de putrefação”, foi encontrado num “areal acidentado de pequenas dunas”. “Algumas peças do vestuário apresentavam-se rasgadas pelos cães”. Tem início a investigação, conduzida com minúcia pelo investigador Elias Santana, “com a reserva e sem paixão que competem à sua especialidade e tanto assim que jamais pronuncia a palavra Defunto, Finado ou Falecido a propósito do cadáver que lhe é confiado, preferindo trata-lo por De Cujus que sempre é um termo de meritíssimo juiz”. A reconstituição dos últimos dias do Major Luís Dantas Castro revela o contexto do seu confinamento, uma casa isolada onde se refugiou juntamente com três cúmplices profundamente oprimidos pela sua personalidade impositiva. No ambiente claustrofóbico do esconderijo, o major acaba por ocupar demasiado espaço, o que dita o seu fim.

Título: Balada da praia dos cães

Autor: José Cardoso Pires

Editora: D. Quixote

Ano: 1994

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