Giordano Bruno, o filósofo maldito

Giordano Bruno constitui um marco fundamental da civilização ocidental, não só pelas ideias que desenvolveu, mas igualmente pela forma como as defendeu. No final do século XVI, este sacerdote dominicano inteligentíssimo afastou-se do dogma religioso graças à sua indomável curiosidade intelectual. Dedicou-se a uma enorme diversidade de áreas do saber, desde a filosofia à astronomia, passando pela matemática e pelo estudo da memória. Recusava a ideia ortodoxa da Trindade, defendia a infinitude do universo e renunciava à teoria geocêntrica, ideias profundamente perniciosas aos olhos da inquisição, que tudo fez para capturar, julgar e castigar severamente este livre pensador que ousou desafiar os pressupostos que sustentavam o edifício ideológico da Igreja.

Acima de tudo, abominava a ignorância, combustível para a intolerância e a violência. Acreditava que o conhecimento constituiria uma via para a concórdia entre católicos e protestantes, um veículo para a paz e para um mundo melhor. Com este ideal em mente, procurou aproximar-se de figuras-chave da sua época, tendo por objetivo último influenciar o Papa Clemente VIII, propósito que nunca chegou a concretizar. No seu entusiasmo intelectual terá subestimado a persistência feroz da Inquisição, que mediante artimanhas e falsidades o capturou e confinou durante 7 longos anos de privação e tortura. No final deste martírio, reservou-lhe o fim cruel que estava destinado a todos os que a desafiavam: a morte na fogueira. Michael White recupera a vida e obra deste intelectual fascinante, demorando-se sobre o seu julgamento. Neste exigente exercício de reconstituição histórica, recorre a escassos e dispersos documentos do Vaticano. Muito se terá perdido nos confins da história, sem deixar qualquer rasto documental que permita recuperar o sucedido. Mesmo assim, é possível reconstituir com alguma coerência a luta deste homem pela sua noção de verdade, uma luta que a Inquisição não conseguiu apagar da história, apesar dos seus impiedosos esforços.

“Desejo que o mundo usufrua dos gloriosos frutos do meu trabalho, desejo despertar a alma e abrir o espírito dos que vivem privados dessa luz que, seguramente, não é invenção minha. Se estiver errado, não creio que o faça deliberadamente. E, ao falar e escrever deste modo, não sou impelido pelo desejo de sair vitorioso, pois que reconheço qualquer tipo de fama e conquista como inimigos de Deus, vis e sem qualquer honra, se não forem verdadeiras; mas por amor à sabedoria autêntica e num esforço para reflectir com justeza, fatigo-me, sofro, atormento-me”.                                         Giordano Bruno

Título: Giordano Bruno, o filósofo maldito

Autor: Michael White

Editora: Planeta

Ano: 2008

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