Tom Sharpe

Wilt em parte incerta

Filho de um simpatizante nazi, Tom Sharpe, um dos expoentes máximos do humor britânico, utilizou os seus dotes literários em prole do combate ao racismo na África do Sul, país onde assistiu em primeira mão aos horrores da violência racial. O seu ativismo literário contra o apartheid valeu-lhe a prisão e a deportação para a sua Grã-Bretanha natal no início dos anos 60. Distante da contestação politica, em 1976 publica Wilt, novela humorística que introduz o seu personagem mais carismático, Henry Wilt, professor de literatura num colégio de artes e tecnologia que dá o nome a cinco novelas publicadas ao longo de quase 25 anos.

«Wilt em parte incerta» é a penúltima novela em que figura este personagem desafortunado e incompreendido que, como é hábito, se vê rodeado de indivíduos vulgares e desagradáveis que se envolvem nas tramas mais absurdas e disparatadas. A sua opressiva esposa parte para umas férias nos EUA com as filhas de ambos, as maquiavélicas e imparáveis quadrigémeas, deixando-o livre para cumprir o sonho antigo de divagar sem destino a pé pela Inglaterra profunda. Mas como tudo na vida de Wilt, o passeio vai ser tudo menos bucólico. As trapalhadas perseguem-no mesmo nos confins mais recônditos onde se pretende evadir, transfigurando esta novela numa paródia sem fim. Afinal, Tom Sharpe transformou o mau gosto numa forma de arte.

“Então, subitamente, o seu pé ficou preso na raiz de um abrolho e ele sentiu-se a cair de cabeça. Por um momento a sua mochila, presa num dos espinhos do abrolho, quase lhe amparou a queda. Mas Wilt continuou a cair, aterrou de cabeça na parte de trás da pick-up de Bert Addle e desmaiou. Era quinta-feira à noite”.

Título: Wilt em parte incerta

Autor: Tom Sharpe

Editora: Teorema

Ano: 2004

wilt