«A estrela do diabo» coloca Jo Nesbo alguns furos acima da generalidade dos seus congéneres nórdicos que se dedicam à escrita de policiais. As personagens são um pouco mais elaboradas e o enredo é consistente e fornece a dose certa de adrenalina, mas é o sarcasmo inteligente que marca a diferença, com algumas tiradas interessantes, bem escritas e oportunas a definirem o carácter de Harry Hole, o inspector atormentado que teima em caminhar na beira do precipício na companhia da sua inseparável garrafa.
A sua tendência auto destrutiva não o impede de perseguir eficazmente um inteligente serial-killer ao mesmo tempo que enfrenta um arqui-inimigo verdadeiramente detestável e irritantemente adulado por todos, que não lhe dá um minuto de tréguas. Pelo meio ainda tem tempo para ensaiar umas tiradas românticas, talvez a componente menos convincente do livro, por soar ligeiramente a cliché. No entanto, a impressão geral é bastante positiva. Quem aprecia este tipo de literatura certamente não ficará desiludido e corre mesmo o risco de se viciar nas desventuras deste detective pouco original, mas cativante.
“Para um alcoólico, a vida consistia entre estar-se bêbado e os intervalos entre estar-se bêbado. Qual dessas partes era a vida real era uma questão filosófica que ele nunca tivera tempo suficiente para examinar, já que, de qualquer maneira, a resposta não lhe possibilitaria uma vida melhor. Ou pior. Segundo a lei básica da vida de um alcoólico – A Grande Sede – tudo o que era bom, mesmo tudo, perder-se-ia, mais cedo ou mais tarde”.
Título: A estrela do diabo
Autor: Jo Nesbo
Editora: D. Quixote
Ano: 2011